2 de jun. de 2008

Herança colonial

(...) não ignorava que d. João III tinha mandado fundar colônias em país tão remoto com o intuito de tirar proveito para o Estado, mediante a exportação de gêneros de procedência brasileira: sabia que os gêneros produzidos junto ao mar podiam conduzir-se facilmente à Europa e que os do sertão, pelo contrário, demoravam a chegar aos portos onde fossem embarcados e, se chegassem, seria com tais despesas, que aos lavradores "não faria conta largá-los pelo preço por que se vendessem os da marinha".

Assim dizia frei Gaspar da Madre de Deus, há século e meio. E acrescentava: "Estes foram os motivos de antepor a povoação da costa à do sertão; e porque também previu que nunca, ou muito tarde, se havia de povoar bem a marinha, repartindo-se os colonos, dificultou a entrada do campo, reservando-a por um tempo futuro, quando estivesse cheia e bem cultivada a terra mais vizinha aos portos".

A influência dessa colonização litorânea, que praticavam, de preferência, os portugueses, ainda persiste até os nossos dias. Quando hoje se fala em "interior", pensa-se, como no século XVI, em região escassamente povoada e apenas atingida pela cultura urbana. (p. 101)